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quarta-feira, 25 de novembro de 2009

COMENDO UM GALO

Isaac Sandes

A estorinha é conhecida de todos: “O bêbedo ia sendo conduzido sob violenta surra por policiais, quando, passando por uma caridosa velhinha, esta apelou: - Pelo amor de Deus, matem logo esse pobre coitado, mas não o maltratem tanto - Apesar da violenta surra que ia levando, o bêbedo ainda ouviu a sugestão da velhinha e teve tempo de se defender: Não, senhora, por favor. Do jeito que vai, vai muito bem. “

Tal estorinha vem muito a propósito de recentes fatos que vi publicado nos jornais diários.

Em cinematográfica operação que, por sua envergadura, deve ter deixado fronteiras desguarnecidas, matas indefesas e população a mercê da marginalidade, reuniu-se a fina flor da Polícia Rodoviária Federal, do IBAMA e da Policia Civil alagoana, para coibir uma atividade que, com certeza, vinha abalando as estruturas da segurança e bem estar do mundo animal.

Não estou falando de um estouro de Gnus do Serenghetti, ou do assassinato do último casal de ararinha azul, ou ainda, da proteção do último tigre dente de sabre. Falo da gigantesca operação levada a efeito pelo conjunto de forças acima mencionado, a qual numa espetacular intervenção que contou com armas que faziam os morros cariocas tremerem nos sapatos, efetuou a prisão de cerca de 120 pessoas, entre espectadores e proprietários, e a apreensão de cerca de 320 galos de briga, tudo isso em poeirentas rinhas de ponta de rua.

Mas, alguém há de perguntar: “Onde é que entram o bêbedo e a velhinha nesta estória ? ”.

Explico: Os bêbedos seriam os galos apreendidos e a velhinha seriam os heróicos agentes envolvidos na galinácea operação.

Como assim ??? - Compreenderão quando contextualizar o desenlace da galiforme ação.

Concluída e comemorada com estrondoso sucesso, a operação, ao final, teve inusitado desfecho. Tal qual a velhinha da estória, os operantes agentes, ficaram tão sensibilizados com os maus tratos a que estavam sendo submetidos os pobres galos que, lhes impuseram o destino pretendido para o bêbedo; mataram todos 320 galos e os converteram em alimento de presidiários. Como os pobres galos não podiam falar tal qual os galinhos de estórias em quadrinhos, não tiveram a oportunidade de sugerir aos zelosos agentes públicos que, da forma como estavam sendo tratados na rinha, estavam indo muito bem, obrigado !!!

Teme-se agora possíveis desdobramentos violentos para esta estorinha. Após a compadecida morte dos trezentos e vinte galos gladiadores, e da sua conversão em alimento de presidiários, descobriu-se que todos eram alimentados com hormônios virilizantes para que desenvolvessem agressividade e espírito de luta incomuns. Assim, estão as autoridades vigilantes para que nas próximas rebeliões nos presídios não surjam presos brigando com esporões e bicos de tenazes.

Isaac Sandes

25/11/2009