PISTOLA DA PAIXÃO
A famosa casa Christie's leiloou por 434 mil euros uma pistola Lefaucheux, calibre 7 milímetros, fabricada no século XIX. É uma arma com capacidade de seis tiros, muito comum à época, cujo modelo pode ser comprado por preço irrisório em muitos antiquários europeus.
Por que o valor astronômico? Simplesmente porque foi a arma utilizada por Paul Verlaine para atentar contra a vida de seu amante, Arthur Rimbaud, em um hotel de Bruxelas, numa tarde de 1873.
Os dois ícones da literatura francesa tiveram um tórrido affaire, alimentado de paixão, ódio, álcool, choro e violência. Enfim, uma relação sulfurosa que quase custou a vida de Rimbaud, então com 18 anos de idade.
Verlaine, onze anos mais velho, decidiu voltar para sua esposa, Mathilde, com quem casara em 1870. Decidido a recomeçar a vida, deixa Londres e viaja para Bruxelas.
Inútil. O amante vai ao seu encontro. No hotel as discussões recomeçam cada vez mais violentas e insensatas.
Os ânimos se acirraram, Verlaine saca a pistola e grita: "tiens! je t'apprendrai à vouloir partir" (toma, vou te ensinar a querer ir embora!). São apenas dois disparos. O primeiro atinge o punho de Rimbaud; o segundo, a parede do quarto.
Ferido, Rimbaud é atendido num hospital. A ferida é superficial. O medico aplica-lhe um curativo e o libera. Temendo por sua vida ele se apressa a deixar Bruxelas. Já na rua, Verlaine o aborda e ameaça tirar-lhe a vida. A polícia chega. Ambos são levados ao comissariado de polícia para prestar esclarecimentos.
Verlaine termina condenado a 2 anos de prisão anos por homossexualismo. No cárcere ele se dedica a escrever poemas, dispersos nos livros Romances sans paroles (1874) e Sagesse (1881).
Rimbaud volta para a casa da mãe onde procura superar o trágico rompimento, escrevendo o livro Une saison en enfer.
Assim termina o romance que provocava furor nos salões literários da época e escandalizava a sociedade conservadora.