ISAAC SANDES
- Você conhece algum ??
- Não… !! Não estou falando de nenhum novo índice econômico. Não estou me referindo a nenhum inovador método de aferição de eficiência na empresa, repartição ou carreira.
O valorizador é algo dotado de perfil extremamente particular no dia-a-dia das empresas, repartições públicas e carreiras de Estado.
Talvez você já tenha se deparado com um valorizador e não lhe tenha dado a devida atenção.
Talvez você já tenha sido até uma incauta vítima do valorizador sem, no entanto, se dar conta de tal. Tamanha é a astúcia e a sutileza do valorizador.
O valorizador é um ser que poderia perfeitamente ser recrutado pelos serviços de inteligência das nações em guerra, pelo que tem de seguro em não repassar informações, nem deixar transparecer fraquezas.
Apesar de ser um inseguro enrustido, quase um broxa social, o valorizador é perito na arte da dissimulação e da divulgação de uma imagem irretocável.
Tamanho é o poder de dissimulação do valorizador que, nem nos maiores calores e lassidões da alcova o valorizador entrega seus própositos ou seus métodos de atuação.
Até no leito de morte, cercado pelos familiares mais próximos, o valorizador não entrega sua prática de vida.
Mesmo como encardido religioso; frequentador de todas as quermesses da sua paróquia; carregador de andor em todas as procissões; comungador diário ou membro fundador de uma ordem religiosa. Mesmo assim, o valorizador irá morrer e jamais revelará seus métodos e segredos. Nem mesmo ao vigário que irá lhe administrar a extrema unção.
Se você ainda não conseguiu formar em sua mente o perfil de um valorizador, fornecerei alguns indícios do que possa ser um valorizador.
Ao contrário do que se imagina, o valorizador não é um ente raro, daqueles que a humanidade só nos dá a cada milênio.
Ele pode ser encontrado no nosso dia-a-dia. Seja na figura de um simples aspone do serviço público, seja na figura de um grande empresário, no papel de um alto funcionário, na pele de um magistrado ou de um Promotor. Não é raro se deparar com um valorizador.
Você sempre encontrará o valorizador carregando um grande volume de livros, que jamais vai ler. Conduzindo uma enorme e lustrosa pasta que julga cheia de documentos importantes, mas que, na verdade, se, por acidente, ela se abrir diante de seus olhos, você se verá frustrado pela enorme quantidade de tranqueiras inúteis esparramadas diante deles. Saidos da acidentada pasta do valorizador teremos: Vários tipos de escova para cabelo, espelhinhos, toalhinhas, revistas pornôs, escova de dentes, frasquinhos de perfume, alguns cachetes de medicamentos e, como principal recheio, amarrotadas cópias de um ensebado processo - de deslinde quase impossível – no qual, o valorizador deposita infinita esperança de redenção financeira.
Uma breve incursão histórico-sociológica sobre a origem do valorizador irá nos remeter aos mais imemoriais tempos.
Desconfia-se que os doze trabalhos de Hércules foi uma grande performance de valorizador.
Suspeita-se que o bíblico Sansão também foi um grande valorizador, pois o alarde criado em torno da quantidade de filisteus mortos por ele, não se coaduna com o flagrante que lhes deram seus inimigos. Desfalecido e indefeso na cama de uma notória prostituta, após intenso bacanal.
Mas o caso de valorizador que se tornou mais célebre, quase um arquétipo da humanidade, é aquele do pastor guardador de ovelhas da conhecida fábula - que, para valorizar sua função, sempre dava avisos falsos de ataques de lobos, até que um dia foi comido por eles, pois ninguém mais acreditava em seus infundados alarmes.
Daí o estigma que acompanha, até hoje, todo vigia, pois seguramente, entre as classes e categorias, é o vigia o maior valorizador. Experimente e faça um teste. Pergunte a qualquer vigia que passou a noite entre um cafezinho, um cigarro e um longo cochilo, como foi a rotina de seu trabalho e, ele, sem pestanjar, lhe dirá:
- Olha Doutor foi uma noite de cão, tive que afugentar um ladrãozinho daqui, uns suspeitos que rondavam a casa dali, tive até que dar uns tiros pro alto. Se eu não fosse tão macho… Sei não!!!
- Jamais admitirá que o único barulho ouvido durante a noite foi o do seu ronco.
- É fatal.
O valorizador, você sempre o encontrará esbaforido e soprando, como se, sobre sua cabeça, estivesse desabando o Processo de Nuremberg. Se for daqueles que usam gravata, você sempre o encontrará afrouxando o nó e fazendo cara de que já não mais aguenta tanto trabalho.
Não adianta você convidar o valorizador para um almoço de amigos, uma cervejinha após o expediente, ou que tais, pois ele fatalmente irá lhe dizer que gostaria muito, mais que, ao contrário dos demais, está com um grande volume de serviços para concluir e que lamenta muito não usufruir de uma vidinha mansa como a sua.
O valorizador chega sempre ao trabalho atrasado, mas procura uma maneira de entrar sem que ninguém o veja e, fatalmente, quando todos já estiverem saindo após a conclusão de suas tarefas, o valorizador ficará fazendo serão até “altas horas” e tentará convencer alguém a lhe fazer companhia.
Ninguém consegue pegar um valorizador desprevenido, pois ele, religiosamente, instrui seus empregados e familiares para, automaticamente, responderem aos que ligam para sua casa à sua procura, com a monocórdia frase: “O Doutor tá no trabalho… é… saiu logo cedo”.
Lá, no trabalho, o valorizador, ao contrário, instrui seus auxiliares para responderem: “O Dr. está por aqui, deve ter dado uma pequena saidinha”, ou, se não tiverem saida: “ O Dr. acabou de sair às pressas para uma reunião com o seu chefe. Que pena …! Se o senhor tivesse chegado mais cedo…!!!!
O valorizador nunca passa recibo. Ele sempre sabe tudo. Não adianta você contar uma novidade interessante que fatalmente ele lhe dirá: “Ahhh… Eu já sabia !!!”.
É um verdadeiro estelionatário intelectual. O valorizador.
Qualquer idéia brilhante que lhe for apresentada por um subordinado, será, na próxima reunião do grupo ou diretoria, exposta e incorporada pelo valorizador como a sua mais nova e genuína descoberta.
Tamanho é o hábito incorporado, que o valorizador chega a não ter tempo nem para a própria família. Qualquer tentativa de incursão de esposa e filhos em busca de lazer, tem logo a pronta e definitiva resposta: “O papai está cansado. O dia hoje foi daqueles… fica para a próxima vez ! “.
A sovinice do valorizador só passa a ser suspeita, quando você, bisbilhotando quais são os integrantes mais frequentes de pacotes turísticos de grupos exóticos e diversos do seu, descobre que lá, está sempre o nome do valorizador.
Tão ardiloso é o valorizador que suas viagens de lazer e turismo sempre são feitas em grupos nos quais você jamais suspeitaria encontrá-lo. Tais como: “Grupo de viagem da unha encravada: Agradecidos pelas graças alcançadas no Santuário de Fátima”. “ Peregrinação aos túmulos do ancestrais Cruzados: Partida da Côte d'Azur. Tour nas Ilhas Gregas . - Jerusalém via Estambul .
“Grupo de viagem da confraria dos descendentes dos apunhaladores de César. Visita ao antigo Senado Romano, com esticada à Ilha de Capri.
- Em todos eles, se encontrará o valorizador.
Por tais ardis é que ninguém consegue dizer com segurança, onde se encontra, em tal momento da sua vida, o valorizador. Ele é capaz de, no final do expediente de hoje, deixar você profundamente comovido e ciente de que está tocando um grande e inadiável projeto e, amanhã, vestido de camisa e bermuda coloridas, chapéu australiano enfiado na cabeça, óculos escuros, reboco de protetor solar na cara, está sorrateiramente embarcando em um alegre Cruzeiro rumo ao Atol de Mururoa, como integrante do grupo que irá realizar profundas pesquisas sobre os Efeitos causados pela Radiação Atômica nos Cavalos Marinhos Alazãos daquele ecosistema.
Novamente lhe pergunto:
Você conhece algum ???
Isaac Sandes
23/04/2009
- Não… !! Não estou falando de nenhum novo índice econômico. Não estou me referindo a nenhum inovador método de aferição de eficiência na empresa, repartição ou carreira.
O valorizador é algo dotado de perfil extremamente particular no dia-a-dia das empresas, repartições públicas e carreiras de Estado.
Talvez você já tenha se deparado com um valorizador e não lhe tenha dado a devida atenção.
Talvez você já tenha sido até uma incauta vítima do valorizador sem, no entanto, se dar conta de tal. Tamanha é a astúcia e a sutileza do valorizador.
O valorizador é um ser que poderia perfeitamente ser recrutado pelos serviços de inteligência das nações em guerra, pelo que tem de seguro em não repassar informações, nem deixar transparecer fraquezas.
Apesar de ser um inseguro enrustido, quase um broxa social, o valorizador é perito na arte da dissimulação e da divulgação de uma imagem irretocável.
Tamanho é o poder de dissimulação do valorizador que, nem nos maiores calores e lassidões da alcova o valorizador entrega seus própositos ou seus métodos de atuação.
Até no leito de morte, cercado pelos familiares mais próximos, o valorizador não entrega sua prática de vida.
Mesmo como encardido religioso; frequentador de todas as quermesses da sua paróquia; carregador de andor em todas as procissões; comungador diário ou membro fundador de uma ordem religiosa. Mesmo assim, o valorizador irá morrer e jamais revelará seus métodos e segredos. Nem mesmo ao vigário que irá lhe administrar a extrema unção.
Se você ainda não conseguiu formar em sua mente o perfil de um valorizador, fornecerei alguns indícios do que possa ser um valorizador.
Ao contrário do que se imagina, o valorizador não é um ente raro, daqueles que a humanidade só nos dá a cada milênio.
Ele pode ser encontrado no nosso dia-a-dia. Seja na figura de um simples aspone do serviço público, seja na figura de um grande empresário, no papel de um alto funcionário, na pele de um magistrado ou de um Promotor. Não é raro se deparar com um valorizador.
Você sempre encontrará o valorizador carregando um grande volume de livros, que jamais vai ler. Conduzindo uma enorme e lustrosa pasta que julga cheia de documentos importantes, mas que, na verdade, se, por acidente, ela se abrir diante de seus olhos, você se verá frustrado pela enorme quantidade de tranqueiras inúteis esparramadas diante deles. Saidos da acidentada pasta do valorizador teremos: Vários tipos de escova para cabelo, espelhinhos, toalhinhas, revistas pornôs, escova de dentes, frasquinhos de perfume, alguns cachetes de medicamentos e, como principal recheio, amarrotadas cópias de um ensebado processo - de deslinde quase impossível – no qual, o valorizador deposita infinita esperança de redenção financeira.
Uma breve incursão histórico-sociológica sobre a origem do valorizador irá nos remeter aos mais imemoriais tempos.
Desconfia-se que os doze trabalhos de Hércules foi uma grande performance de valorizador.
Suspeita-se que o bíblico Sansão também foi um grande valorizador, pois o alarde criado em torno da quantidade de filisteus mortos por ele, não se coaduna com o flagrante que lhes deram seus inimigos. Desfalecido e indefeso na cama de uma notória prostituta, após intenso bacanal.
Mas o caso de valorizador que se tornou mais célebre, quase um arquétipo da humanidade, é aquele do pastor guardador de ovelhas da conhecida fábula - que, para valorizar sua função, sempre dava avisos falsos de ataques de lobos, até que um dia foi comido por eles, pois ninguém mais acreditava em seus infundados alarmes.
Daí o estigma que acompanha, até hoje, todo vigia, pois seguramente, entre as classes e categorias, é o vigia o maior valorizador. Experimente e faça um teste. Pergunte a qualquer vigia que passou a noite entre um cafezinho, um cigarro e um longo cochilo, como foi a rotina de seu trabalho e, ele, sem pestanjar, lhe dirá:
- Olha Doutor foi uma noite de cão, tive que afugentar um ladrãozinho daqui, uns suspeitos que rondavam a casa dali, tive até que dar uns tiros pro alto. Se eu não fosse tão macho… Sei não!!!
- Jamais admitirá que o único barulho ouvido durante a noite foi o do seu ronco.
- É fatal.
O valorizador, você sempre o encontrará esbaforido e soprando, como se, sobre sua cabeça, estivesse desabando o Processo de Nuremberg. Se for daqueles que usam gravata, você sempre o encontrará afrouxando o nó e fazendo cara de que já não mais aguenta tanto trabalho.
Não adianta você convidar o valorizador para um almoço de amigos, uma cervejinha após o expediente, ou que tais, pois ele fatalmente irá lhe dizer que gostaria muito, mais que, ao contrário dos demais, está com um grande volume de serviços para concluir e que lamenta muito não usufruir de uma vidinha mansa como a sua.
O valorizador chega sempre ao trabalho atrasado, mas procura uma maneira de entrar sem que ninguém o veja e, fatalmente, quando todos já estiverem saindo após a conclusão de suas tarefas, o valorizador ficará fazendo serão até “altas horas” e tentará convencer alguém a lhe fazer companhia.
Ninguém consegue pegar um valorizador desprevenido, pois ele, religiosamente, instrui seus empregados e familiares para, automaticamente, responderem aos que ligam para sua casa à sua procura, com a monocórdia frase: “O Doutor tá no trabalho… é… saiu logo cedo”.
Lá, no trabalho, o valorizador, ao contrário, instrui seus auxiliares para responderem: “O Dr. está por aqui, deve ter dado uma pequena saidinha”, ou, se não tiverem saida: “ O Dr. acabou de sair às pressas para uma reunião com o seu chefe. Que pena …! Se o senhor tivesse chegado mais cedo…!!!!
O valorizador nunca passa recibo. Ele sempre sabe tudo. Não adianta você contar uma novidade interessante que fatalmente ele lhe dirá: “Ahhh… Eu já sabia !!!”.
É um verdadeiro estelionatário intelectual. O valorizador.
Qualquer idéia brilhante que lhe for apresentada por um subordinado, será, na próxima reunião do grupo ou diretoria, exposta e incorporada pelo valorizador como a sua mais nova e genuína descoberta.
Tamanho é o hábito incorporado, que o valorizador chega a não ter tempo nem para a própria família. Qualquer tentativa de incursão de esposa e filhos em busca de lazer, tem logo a pronta e definitiva resposta: “O papai está cansado. O dia hoje foi daqueles… fica para a próxima vez ! “.
A sovinice do valorizador só passa a ser suspeita, quando você, bisbilhotando quais são os integrantes mais frequentes de pacotes turísticos de grupos exóticos e diversos do seu, descobre que lá, está sempre o nome do valorizador.
Tão ardiloso é o valorizador que suas viagens de lazer e turismo sempre são feitas em grupos nos quais você jamais suspeitaria encontrá-lo. Tais como: “Grupo de viagem da unha encravada: Agradecidos pelas graças alcançadas no Santuário de Fátima”. “ Peregrinação aos túmulos do ancestrais Cruzados: Partida da Côte d'Azur. Tour nas Ilhas Gregas . - Jerusalém via Estambul .
“Grupo de viagem da confraria dos descendentes dos apunhaladores de César. Visita ao antigo Senado Romano, com esticada à Ilha de Capri.
- Em todos eles, se encontrará o valorizador.
Por tais ardis é que ninguém consegue dizer com segurança, onde se encontra, em tal momento da sua vida, o valorizador. Ele é capaz de, no final do expediente de hoje, deixar você profundamente comovido e ciente de que está tocando um grande e inadiável projeto e, amanhã, vestido de camisa e bermuda coloridas, chapéu australiano enfiado na cabeça, óculos escuros, reboco de protetor solar na cara, está sorrateiramente embarcando em um alegre Cruzeiro rumo ao Atol de Mururoa, como integrante do grupo que irá realizar profundas pesquisas sobre os Efeitos causados pela Radiação Atômica nos Cavalos Marinhos Alazãos daquele ecosistema.
Novamente lhe pergunto:
Você conhece algum ???
Isaac Sandes
23/04/2009
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirMais uma crônica dele. Muito engraçada e inteligente! Nunca tinha parado pra pensar nos valorizadores. É uma classe que realmente existe em todos os meios.
ResponderExcluirIsaac,
ResponderExcluirCerta vez, durante uma reunião, alguém, cujo nome não me recordo, mas que portava sob a axila papéis amarelados, soltou a original frase: “Ah, é como se Fouché, o chefe de polícia, achasse que podia desbancar Napoleão”. Esperei as aspas, ou o tradicional... como diria ... Lord Roy Jenkins, o autor da frase. Nada. Agora estou a meditar: seria tal personagem um valorizador?
Um abraço, Coaracy Fonseca.
É isso.
ResponderExcluirOs mais cara de pau, são capazes de usurpar até pensamentos e frases secularmente escritas, sem a humildade de pelos menos abrir e fechar aspas.