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sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

DOS HOMENS, PÉS E SAPATOS

Isaac Sandes


O recorrente e surdo combate existente entre jovens e velhos, pertecentes às mais diversas instituições e segmentos, quer sejam de trabalho, de lazer ou política, me obrigou à seguinte reflexão:
A humanidade e os indivíduos, os pés e os sapatos, guardam entre si, muita semelhaça no contexto da jornada humana.
Como os sapatos os indivíduos podem ser novos ou velhos. Como os pés, a sociedade pode ser calejada ou imatura.
Todos guardam entre si, uma relação de simbiose e completude, onde suas importâncias e necessidades mútuas deverão ser respeitadas, jamais buscando prescindir uns dos outros para o sucesso da caminhada comum.
Quando os jovens são inundados pelas forças dos hormônios, costumam dar azo a um velho discurso de gerações passadas, o qual prega estar o velho ultrapassado para o ingente esforço social. Por seu lado, ao sentirem a sorrateira chegada da velhice, os homens maduros vão entoando uma catililnária que, da mesma forma, prega o despreparo do jovem para posições de destaque no contexto social.
Todos se acusam e se esforçam em demonstrar as deficiências uns dos outros, e esquecem de dirigir um simples olhar para o sábio exemplo que nos é dado pelo uso de nossos sapatos e pelas aptidões de nossos pés.
Com os sapatos aprendemos que, para o sucesso de uma caminhada longa e tortuosa, sem o surgimento de calos e bolhas, segura e sem percalços, teremos, obrigatoriamente, que fazer uso de sapatos velhos, os quais, devido à sua flexibilidade e maciez, adaptam-se facilmente àquele tipo de jornada.
Se, ao contrário, pretendemos fazer uma caminhada arrojada, exibida, cheia de performance e açodada, teremos obrigatóriamente que lançar mão de sapatos novos, brilhantes de solado impecável e com um grande tempo de uso pela frente, pois estes, por sua resistência e beleza, se prestam melhor para tal missão.
Da mesma forma, são os pés e os homens.
Para duras e tortuosas caminhadas, por terrenos pedregosos e áridos, melhor se adequam a ela os pés calejados e empedernidos, assim como, pés jovens e imaculados, melhor se prestam para caminhadas curtas e velozes e sem percalços.
A mesma estratégia se aplica aos homens. Para tarefas que exigem maturidade e razão, deveremos contar com homens maduros, experimentados, dotados da mais ampla sabedoria. Do mesmo modo, se os obstáculos a serem vencidos necessitam de arrojo e audácia, devemos, para isto, contar com homens jovens e cheios de vitalidade para sua transposição.
Dessa forma, todos, sem exceção, reclamam e merecem ver reconhecido, o seu espaço na caminhada da humanidade. Com o devido cuidado e respeito devemos apenas, na partilha da jornada a trilhar, entregar a cada um, a tarefa que possa realizar com excelência.
Se, em determinada quadra do caminho, tivermos que trilhar uma estrada cheia de armadilhas, pedregosa e que necessite de grande experiência no seu percurso, não devemos destinar este trecho a pés macios e não calejados, calçados em sapatos novos e rígidos. Pois, fatalmente, eles não irão concluí-la satisfatoriamente, tamanhos serão os estragos advindos da impropriedade do conjunto - sapatos novos/pés macios.
Ao contrário, se a estrada a ser trilhada requer força, arrojo e ação enérgica para se rápido trilhar, não devemos entregá-la a pés ressequidos e calejados, calçados em sapatos velhos e folgados. Pois, da mesma forma, estes não irão cumprir sua missão a contento, pois já não possuem a higidez, o viço e o fogo da juventude. A necessidade do grande dispêndio de energia, de brilho e rapidez na ação, fatalmente vencerão aqueles velhos pés, calçados em frouxos e velhos sapatos.
Portanto, o que pretendo dizer é que jovens e velhos jamais podem e nem devem prescindir um do outro, agindo cada um no seu território particular e com as aptidões e eficiências que lhes são próprias.
Pois como as estradas, a vida é cheia de trechos tortuosos e ardilosos aqui, ou repleta de urgentes e impetuosos desafios acolá. No entanto, todos, para a conquista objetiva do bem comum, devem unir seus mais caros valores e despender os seus maiores esforços.
Isaac Sandes
25/11/2009.

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