ISAAC SANDES
Ciclópia era uma pequenina cidade estado que dispunha, até certo ponto, de uma privilegiada posição política econômica e geográfica no contexto geral da grande pátria denominada Hipnópolis.
À duras penas, conquistara um certo grau de democracia que causava alguma inveja à suas irmãs e vizinhas populações. Democracia esta que seus habitantes envergavam com certo ar de altivez e superioridade. Afinal de contas poucas pequenas cidades haviam conquistado, em toda a continental Hipnópolis, tal aperfeiçoamento em suas instituições, poucas tinham, como Ciclópia, tantas eleições para tantos cargos e posições.
À duras penas, conquistara um certo grau de democracia que causava alguma inveja à suas irmãs e vizinhas populações. Democracia esta que seus habitantes envergavam com certo ar de altivez e superioridade. Afinal de contas poucas pequenas cidades haviam conquistado, em toda a continental Hipnópolis, tal aperfeiçoamento em suas instituições, poucas tinham, como Ciclópia, tantas eleições para tantos cargos e posições.
Como seus ancestrais fundadores, os moradores de Ciclópia nunca deixaram de cultuar o antigo hábito de dividir sua comunidade em castas; a dos antigos e a dos modernos. Na maioria das vezes, nos debates políticos os antigos eram jocosamente chamados de ultrapassados e engessados nas teias do tempo, por aqueles modernos mais afoitos, em contrapartida, os antigos, às vezes, colavam nos modernos rótulos de imaturos e inexperientes.
A grande dificuldade para os governantes de Ciclópia, nos últimos séculos, passou a ser, não de ordem material, mas sim administrar o ego de seus concidadãos, pois, paradoxalmente, tais egos estavam sendo afetados por um mal totalmente inusitado que estava corroendo as bases das suas, outrora, pacíficas e construtivas amizades.
Explica-se. Não que o exercício da democracia fosse danoso aos ciclopienses. Ao contrário. O exercício da democracia fez com que os ciclopienses se tornassem conhecidos como os mais engajados cidadãos da imensa nação de Hipnópolis .
Então como explicar-se o aparecimento de tão exdrúxula síndrome que estava corroendo as entranhas da comunidade ciclopiense.
Após intensa e demorada pesquisa o grupo de estudos, composto por psicólogos que foram nomeados para tal, apresentou a toda comunidade, o mecanismo da cruel mecânica que engendrava e disparava a inusitada síndrome entre os cidadãos de Ciclópia.
Após várias sessões de análise a que submeteram os mais diversos grupos de Ciclopienses, os estudiosos da psique humana concluíram que tais cidadãos eram portadores de uma raríssima e nunca antes catalogada síndrome: A síndrome da urna recorrente.
Após várias sessões de análise a que submeteram os mais diversos grupos de Ciclopienses, os estudiosos da psique humana concluíram que tais cidadãos eram portadores de uma raríssima e nunca antes catalogada síndrome: A síndrome da urna recorrente.
Em seus exaustivos estudos e pesquisas, o grupo de trabalho descobriu que, no exercício febril da democracia, os ciclopienses estavam passando pelo estresse das eleições até três vezes em um único ano. E que, em razão do amplo geral e irrestrito debate democrático, várias feridas que calavam fundo na ética na moral e na vida pessoal de cada um dos cidadãos, eram abertas por ocasião de cada certame.
Pior, verificou-se mais, a recorrência e proximidade dos pleitos que, quase se atropelavam naquela comunidade, não permitiam que nenhuma ferida anterior cicatrizasse e já, em seguida, novas cutiladas que punham a carne já exposta em estado lastimável e a alma de cada um em verdadeiro estado de guerra. Tantas eram as agressões mútuas provocadas pela recorrência das urnas que, como numa mesa de comensais, se cada um adivinhasse o pensamento do outro, aquele encontro terminaria como um encontro de canibais.
Dentre as descobertas feitas pelo grupo de estudos, que culminaram no diagnóstico da síndrome da urna recorrente, uma chamou a atenção pelo que continha de inusitada e insidiosa. Descobriu-se que no último pleito, um dos candidatos tendo concluído um curso intensivo de aprendiz de feiticeiro com o mundialmente conhecido Bruxo Gargamel, numa espécie de exibicionismo para o seu amado mestre, por ocasião da elaboração de seu TCC, criou e distribuiu entre seus acólitos e eleitores, um espelho mágico que tinha o perverso poder de distorcer a imagem de suas personalidades. Ao se confrontarem com o dito espelho, medíocres se enxergavam capazes, iníquos se viam como indispensáveis, infiéis como escudeiros, traidores como leais e chacais se viam como verdadeiros cordeiros.
Passado o pleito, o encanto e o espelho se quebraram e todos retomaram suas verdadeiras personas, fato que, por sua agudeza, disparou o gatilho biológico de algo que já vinha se desenvolvendo há bastante tempo no interior de cada um dos cidadãos ciclopienses: A síndrome da urna recorrente.
Isaac Sandes
Maceió. 10/04/09
Isaac Sandes
Maceió. 10/04/09