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quarta-feira, 4 de novembro de 2009

NO MEIO ESTÃO OS EXTRAMADOS

ISAAC SANDES
Numa leitura rápida e pouco percuciente, a afirmativa acima parece ir de encontro à secular máxima Aristotélica que diz estar no meio a virtude, ou melhor, o equilíbrio e a medida certa para a conduta humana. Sob tal ponto de vista, jamais uma conduta extremada poderia enquadrar-se como um comportamento virtuoso, como uma medida de equilíbrio.
Como então desatar o nó górdio da aparentemente leviana e paradoxal idéia deste título. Com certeza, não será sofismando nem muito menos tecendo uma argumentação capciosa.
A resposta para tão contraditória tese, não encontra-se num debate Socrático, numa peleja intelectual e, muito menos, num compêndio de Filosofia. Ao contrário, ela é encontrada no nosso dia a dia, no dia a dia de um advogado, de um policial, nas páginas dos jornais diários, das revistas de fofocas etc.
Para mim, a comprovação da temerária afirmativa, deu-se pela observação desapaixonada do que ocorre nos três estratos sociais comumente definidos, ou seja, classe alta, classe média e pobreza.
A revelação prática do que ocorre no alto de nosso pirâmide social, vinda em socorro da debochada maxima, me foi apresentada pelos noticiosos diários, escritos ou falados, e, principalmente, pelas revistas populares de circulação nacional e de maciça penetração, comumente encontradas em barbearias e salões de beleza.
Tais meios de comunicação, têm como principal fonte de combustível os eventos ocorridos na alta sociedade, com especial destaque para os casamentos, separações e a consumação de divórcios.
Já, as agruras e dramas da classe média, observados nos malabarismos feitos com a finalidade de manter o patrimônio conquistado à duras penas, são para mim os responsáveis pela comprovação do núcleo da tese título.
Finalmente, a simplicidade, a desenvoltura e tranquilidade com que a pobreza lida com os mesmos fatos no extremo baixo do nosso estrato social, fecha o ciclo para o deslinde e compreensão definitiva da temerária afirmativa de que os extremados estão no meio.
Se estiver intrigado com tanto mistério explico:
Como insinuei acima, observa-se que no extrato mais alto de nossa sociedade, não existe traumas nem conflitos quando um casamento chega ao fim em virtude de infidelidade, uma vez que, milionários os envolvidos, facilmente se entendem com a transferência de alguns milhões de dólares para a conta corrente do outro, uma cobertura aqui, ou uma mansão ali. Assim, finalmente todos satisfeitos e felizes não patrocinam nenhum episódio de radicalismo, ou, o popular barraco. Certamente você conhece alguns casos.
Daí, transporto a cena para o extremo mais baixo da escala social. A pobreza. Como bem pode observar o mais descuidado dos seres, os casamentos ou relacionamentos neste segmento social, quando desfeitos em razão de traições conjugais, não apresentam qualquer tremor na escala Richter. Por serem todos miseráveis e, sabidamente, não possuirem nada para disputar, dissolvem seus casamentos pacificamente, tomando cada um seu destino sem nenhum trauma, quer seja econômico, quer seja pessoal ou psicológico.
Exemplo acabado de tal afirmativa tive a oportunidade de vivenciar em uma audiência de conversão de separação em divórcio.
Naquela audiência, não entendia o porque da alcunha do divorciando ser “ Carinha ”.
Só fui compreender a razão do apelido quando o magistrado indagando do mesmo, qual teria sido a verdadeira causa da separação, e ele, sem o menor pudor, confessou:
- Dr. foi gaia, muita gaia, que essa mulher me botou!
E o magistrado um pouco constrangido:
- Mas o senhor foi traído mesmo ?
Então, o “ Carinha” batendo no peito inflado tal qual um gorila de filme de Tarzan, orgulhosamente bradou:
- Dr. Desafiou existir naquela rua, alguém mais corno do que eu.
Então, inclinando-se para cochichar baixinho no meu ouvido, o seu advogado me esclareceu:
- É por isso Dr., que ele é chamado de “Carinha “ . É Carinha de corno!!
Tal exemplo nos remete ao cerne da questão, a afirmativa de que no meio é que encontram-se os extremados.
É isso mesmo amigos, no meio da pirâmide social, na classe média, é que se encontram os extremados. Isso quando o assunto é separação ou divórcio motivados pela mais primitiva forma de traição, a traição conjugal.
Nesse segmento social, as reações e atitudes são as mais radicais, as mais extremadas, por parte dos personagens. Assassinatos, suicídios, tiros, surras, desmaios, disputa por um velho fogão; um verdadeiro pastelão.
É a mais pura verdade, a classe média, o meio da pirâmide social, reaje muito mal, quando o assunto é divórcio motivado por traição. Parte para atitudes extremadas e passa a alimentar os tablóides sensasionalistas, daí para as páginas policiais e, até mesmo, para o obituário dos jornais. Donde se conclui que o sentido da dita manchada honra, encontra-se, verdadeiramente, na questão patrimonial. É ela que agita os mais viscerais sentimentos da humanidade. É a questão patrimonial a mola mestra daquilo que costuma ser, enganosamente, tomado por sentimento de honra.
Disse tudo isto para demonstrar sem medo de errar. No meio estão os extremados.
Isaac Sandes 29/09/2009.

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