GEORGE SARMENTO
A vida tem várias facetas envoltas em insondáveis mistérios. O ser humano é capaz de satisfazer-se com o que conquistou? Por que o vazio existencial insiste em nos atormentar depois que atingimos determinado objetivo? Será que precisamos de desafios permanentes e infinitos para nos sentirmos vivos? Tenho meditado muito sobre essas questões, mas não tenho resposta definitiva. Acho que nunca desvendarei essa trama.
Uma tese muito recorrente na obra poética de Mendonça Júnior é a de que os desejos que permanecem na dimensão dos sonhos são muito mais importantes que as realizações terrenas: "Se o bem mais desejado, à mão, nos vem, ao estreitá-lo no peito, já todo o seu encanto está desfeito e nem parece mais o mesmo bem". O soneto Velocípede, transcrito abaixo, é a metáfora das aspirações frustradas que se fixam na memória como possibilidade longínqua de felicidade. Elas existem para jamais serem satisfeitas, posto que habitam na dimensão do que poderia ter sido se....
Parece que estamos condenados a viver eternamente incontentados, insatisfeitos com a vida real. O sonho inatingível é a grande utopia individual, o Jardim das Delícias, o Éden espiritual. Admiro muito as pessoas resignadas, perfeitamente satisfeitas e felizes com a concretude da realidade cotidiana. Talvez esse seja o caminho da serenidade, ou da "tranqüilidade da alma", como preferia Sêneca.
A vida tem várias facetas envoltas em insondáveis mistérios. O ser humano é capaz de satisfazer-se com o que conquistou? Por que o vazio existencial insiste em nos atormentar depois que atingimos determinado objetivo? Será que precisamos de desafios permanentes e infinitos para nos sentirmos vivos? Tenho meditado muito sobre essas questões, mas não tenho resposta definitiva. Acho que nunca desvendarei essa trama.
Uma tese muito recorrente na obra poética de Mendonça Júnior é a de que os desejos que permanecem na dimensão dos sonhos são muito mais importantes que as realizações terrenas: "Se o bem mais desejado, à mão, nos vem, ao estreitá-lo no peito, já todo o seu encanto está desfeito e nem parece mais o mesmo bem". O soneto Velocípede, transcrito abaixo, é a metáfora das aspirações frustradas que se fixam na memória como possibilidade longínqua de felicidade. Elas existem para jamais serem satisfeitas, posto que habitam na dimensão do que poderia ter sido se....
Parece que estamos condenados a viver eternamente incontentados, insatisfeitos com a vida real. O sonho inatingível é a grande utopia individual, o Jardim das Delícias, o Éden espiritual. Admiro muito as pessoas resignadas, perfeitamente satisfeitas e felizes com a concretude da realidade cotidiana. Talvez esse seja o caminho da serenidade, ou da "tranqüilidade da alma", como preferia Sêneca.
Não sei se é maldição ou destino a incessante busca dos sonhos impossíveis. Acho que é por isso que tantas pessoas dedicaram suas vidas a procurar a Pedra Filosofal, a Fonte da Juventude, o Santo Graal, o Eldorado. Talvez seja essa a força que impulsiona a vida e impede a acomodação estagnante; talvez seja a expectativa de viver algo extraordinário, inusitado, fantástico. As pequenas conquistas do cotidiano alegram e alimentam a auto-estima. Elas são necessárias para fortalecer o espírito e me estimular a seguir em frente. O sentimento de frustação é derrotista, desanimador. Mas confesso, que os velocípedes cromados também povoam meus devaneios...
O VELOCÍPEDE
Mendonça Júnior
Ainda sinto que me falta
o lindo velocípede cromado
que foi a minha aspiração mais alta
e o meu primeiro sonho malogrado.
Frequentemente, ante os meus olhos salta
esse brinquedo que me foi negado
e o menino de outrora ainda se exalta
e esbraveja, sentindo-se frustrado.
Consola-me pensar que nehum bem,
depois de conquistado se mantém
ao nível em que pairou como esperança
E só se guarda vivo na lembrança
Aquilo que se quer e não se tem,
o que mais se deseja e não se alcança.
O "se" não diz, sugere. Acho que por isso que a nossa imaginação, criatividade, soltas das amarrasa do real, nos projetam para uma dimensão que não aconteceu, mas poderia ter acontecido. Que estava ao alcance dos dedos.
ResponderExcluirE essa constante dúvida do que não veio, por vezes frustam, porque, de repente, estaria naquele "se" um punhado de felicidade que não chegou.
Pensar no "se", acredito, gera mais tristeza do que alegria. É melhor pensar no presente que ainda temos, porque o "se" já passou.