A MALDIÇÃO DO IMPERADOR
GEORGE SARMENTO
Alagoas vive a maior crise de auto-estima de sua história. Ostentamos vergonhosos índices de corrupção, violência e analfabetismo. E parece que nos orgulhamos disso. O povo, sofrido e privado das mais elementares políticas públicas, continua votando em candidatos comprometidos com o atraso, com o coronelismo e com o enriquecimento ilícito.
Onde está a bravura dos caetés? A coragem de Zumbi dos Palmares? O médico Luiz Nogueira, um dos mais lúcidos intelectuais alagoanos, afirma que para defender Alagoas temos de bater à porta dos cemitérios. É paradoxal que sejamos obrigados a incomodar os nossos mortos ilustres para resgatar a honra perdida. Como é triste assistir às patuscadas dos políticos, que protagonizam episódios pastelões, que só acirram à impressão negativa que a nação tem de Alagoas!
Nas rodas de botequim, nos senadinhos de aposentados, nas caminhadas na praia, em todo lugar não faltam palpiteiros que se arriscam nas mais exóticas explicações sociológicas para as tragédias que se abatem sobre o nosso torrão.
Certo dia, conversava com uma brilhante professora da UFAL, sobre essas questões. Autora de vários livros e voz respeitadíssima na academia, ela olhou para mim e pontificou:
– É a praga de D. Pedro II. E repetiu: – ainda não conseguimos nos libertar da maldição do Imperador!
Ainda pasmo, balbuciei: – Como é a história? A senhora está falando sério? Ela olhou para mim com condescendência, expondo as vísceras de minha ignorância histórica.
– Você não sabe?
– Não, respondi envergonhado.
– Tudo começou na visita que D. Pedro II fez a Alagoas. Um verdadeiro desastre! Quando desembarcou em Maceió, o vento nordeste atacou toda a comitiva real, que teve de entrar na cidade de costas, as roupas cheias de areia da praia e os cabelos desgrenhados. A incursão ao interior foi ainda mais catastrófica: os visitantes foram atacados por mosquitos, abelhas e indigestão.
Ela bebeu um copo d’água, tossiu e continuou em tom professoral:
– Muitos anos depois, o velho imperador desenvolveu afeição paternal por Marechal Deodoro, monarquista convicto, a quem confiou os cargos mais importantes da Corte. Advinha quem proclamou a república? Sem se importar com minha perplexidade, arrematou:
– Pois é, Deodoro da Fonseca, o enfant gâté, determinou ao seu protetor que deixasse o Brasil em 24 horas, acompanhado de toda a sua família. Cortou-lhe até a pensão a que tinha direito. Sabe o nome da fragata que os conduziu para o exílio? Nem me deixou responder: – Alagoas! Foi aí que o Imperador, trêmulo de raiva e de decepção com a corja de traidores rogou a praga: “nessa terra nada pode prosperar”.
Depois dessa peroração eloqüente, a professora despediu-se de mim com uma tapinha no ombro, deixando-me imerso em elucubrações.
Onde está a bravura dos caetés? A coragem de Zumbi dos Palmares? O médico Luiz Nogueira, um dos mais lúcidos intelectuais alagoanos, afirma que para defender Alagoas temos de bater à porta dos cemitérios. É paradoxal que sejamos obrigados a incomodar os nossos mortos ilustres para resgatar a honra perdida. Como é triste assistir às patuscadas dos políticos, que protagonizam episódios pastelões, que só acirram à impressão negativa que a nação tem de Alagoas!
Nas rodas de botequim, nos senadinhos de aposentados, nas caminhadas na praia, em todo lugar não faltam palpiteiros que se arriscam nas mais exóticas explicações sociológicas para as tragédias que se abatem sobre o nosso torrão.
Certo dia, conversava com uma brilhante professora da UFAL, sobre essas questões. Autora de vários livros e voz respeitadíssima na academia, ela olhou para mim e pontificou:
– É a praga de D. Pedro II. E repetiu: – ainda não conseguimos nos libertar da maldição do Imperador!
Ainda pasmo, balbuciei: – Como é a história? A senhora está falando sério? Ela olhou para mim com condescendência, expondo as vísceras de minha ignorância histórica.
– Você não sabe?
– Não, respondi envergonhado.
– Tudo começou na visita que D. Pedro II fez a Alagoas. Um verdadeiro desastre! Quando desembarcou em Maceió, o vento nordeste atacou toda a comitiva real, que teve de entrar na cidade de costas, as roupas cheias de areia da praia e os cabelos desgrenhados. A incursão ao interior foi ainda mais catastrófica: os visitantes foram atacados por mosquitos, abelhas e indigestão.
Ela bebeu um copo d’água, tossiu e continuou em tom professoral:
– Muitos anos depois, o velho imperador desenvolveu afeição paternal por Marechal Deodoro, monarquista convicto, a quem confiou os cargos mais importantes da Corte. Advinha quem proclamou a república? Sem se importar com minha perplexidade, arrematou:
– Pois é, Deodoro da Fonseca, o enfant gâté, determinou ao seu protetor que deixasse o Brasil em 24 horas, acompanhado de toda a sua família. Cortou-lhe até a pensão a que tinha direito. Sabe o nome da fragata que os conduziu para o exílio? Nem me deixou responder: – Alagoas! Foi aí que o Imperador, trêmulo de raiva e de decepção com a corja de traidores rogou a praga: “nessa terra nada pode prosperar”.
Depois dessa peroração eloqüente, a professora despediu-se de mim com uma tapinha no ombro, deixando-me imerso em elucubrações.
O diálogo surrealista foi extremamente revelador da origem das nossas desgraças. Para que herméticas explicações sociológicas? A resposta está na cara: a maldição do Imperador é a grande responsável pela infestação de gabirus, taturanas e sanguessugas em Alagoas - pragas imunes a qualquer tipo de inseticida.
A saída é procurar um boa encruzilhada, convocar os pais de santo com seus atabaques e galinhas pretas para ver se retira esse feitiço de amarração.
4 comentários:
Fico feliz que mesmo nessa preguiça de domingo, tenha tido um tempinho para ler minhas palavras. Obrigada.
A história é boa com certeza e muito curiosa, engraçada até.
Mas o povo da monarqui o era mesmo não era? rs
Mas acho muito fácil ao povo, acreditar numa maldição que nas suas propria ação.
Confesso amar a cidade onde moro, Jundiaí, interior de São Paulo e nunca ter ido a Alagoas, tão pouco ser conhecedora da sua historia.
Mas veja por exemplo o seu Blog, é genial, o que me deixa custando a crer que não haja mais de você por essas terras...rs
Todo mundo e todos os lugares tem algo de bom, basta saber olhar.
Sabe quando a gente fica grávida, sai na rua e vê um monte de gente grávida, que não via antes.
Quando a gente tem filhos, entra num lugar e nossa...rs de onde sairam tantos bebês?
Acho que vale o mesmo aqui, faz o bem, e que o bem seja forte na sua vida, e vai começar a ver o bem em todos os lugares.
George eu fiquei muito feliz ao saber que sempre vais me ler, porque faço o mesmo com teu Blog.
beijo Grande
adorei... engraçado é que eu tive um professor (Roberto SARMENTO Lima) na UFAL que nos contava essa fascinante história de vez em quando... vcs são parentes? rs
adorei... engraçado é que eu tive um professor (Roberto SARMENTO Lima) na UFAL que nos contava essa fascinante história de vez em quando... vcs são parentes? rs
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