COARACY FONSECA
Há um provérbio escocês que diz: “desconfie do homem que não bebe”. É bem verdade que a Escócia produz um dos melhores destilados do mundo, do qual sou um moderado apreciador, porém, a máxima vai além da conotação jocosa, e desafia certa especulação filosófica, de mesa de bar. Não irei falar sobre os grandes malefícios que o álcool tem causado à saúde pública, a exigir vigilância permanente das autoridades e das famílias, pois tudo em excesso, mesmo o remédio, transmuda-se em veneno. O comedimento deve plasmar a conduta humana.
Exagero à parte, quem não bebe, de fato, vive na sombra, encastela-se numa arrogante racionalidade, e não permite nem a si, nem ao outro, perscrutar as entranhas do seu ser, os recônditos da alma, onde, muito amiúde, habitam fantasmas, demônios e também a energia criadora da beleza, que faz bem. O que seria deste mundo sem as belas-artes, além da música e da poesia?
A chamada mente racional é apenas um equipamento, utilíssimo, diga-se de passagem, para a sobrevivência na selva que, pelo seu próprio engenho, transformou-se em pedra. Porém, como pintou, com tinta de ouro, o gênio de Victor Hugo, após alguns goles de vinho: “A realidade é a alma. O verdadeiro homem é o que está debaixo do homem”. A criatura humana, se pudéssemos vê-la como realmente é, ao revés de homem ou mulher, mostrar-se-ia um pássaro de cantar mavioso, uma águia, um colibri, uma flor, um corcel ou um chacal sedento de sangue.
A embriaguez é o reencontro com o mundo ancestral, o mundo dos instintos, sem qualificações éticas; o mundo dos sentidos, sem a craveira do senso moral. Por isso, antes de chamar alguém de amigo, ou de permitir-lhe a entrada no lar, leve-o a um templo de Baco – sem está ao volante, é claro –, embriague-se e embriague-o, como nos rituais da antiguidade e, certamente, emergirá do fundo d’alma a natureza animal do conviva, já montado na ema, a desvelar o seu verdadeiro ser, “o homem que está por debaixo do homem”.
Há um provérbio escocês que diz: “desconfie do homem que não bebe”. É bem verdade que a Escócia produz um dos melhores destilados do mundo, do qual sou um moderado apreciador, porém, a máxima vai além da conotação jocosa, e desafia certa especulação filosófica, de mesa de bar. Não irei falar sobre os grandes malefícios que o álcool tem causado à saúde pública, a exigir vigilância permanente das autoridades e das famílias, pois tudo em excesso, mesmo o remédio, transmuda-se em veneno. O comedimento deve plasmar a conduta humana.
Exagero à parte, quem não bebe, de fato, vive na sombra, encastela-se numa arrogante racionalidade, e não permite nem a si, nem ao outro, perscrutar as entranhas do seu ser, os recônditos da alma, onde, muito amiúde, habitam fantasmas, demônios e também a energia criadora da beleza, que faz bem. O que seria deste mundo sem as belas-artes, além da música e da poesia?
A chamada mente racional é apenas um equipamento, utilíssimo, diga-se de passagem, para a sobrevivência na selva que, pelo seu próprio engenho, transformou-se em pedra. Porém, como pintou, com tinta de ouro, o gênio de Victor Hugo, após alguns goles de vinho: “A realidade é a alma. O verdadeiro homem é o que está debaixo do homem”. A criatura humana, se pudéssemos vê-la como realmente é, ao revés de homem ou mulher, mostrar-se-ia um pássaro de cantar mavioso, uma águia, um colibri, uma flor, um corcel ou um chacal sedento de sangue.
A embriaguez é o reencontro com o mundo ancestral, o mundo dos instintos, sem qualificações éticas; o mundo dos sentidos, sem a craveira do senso moral. Por isso, antes de chamar alguém de amigo, ou de permitir-lhe a entrada no lar, leve-o a um templo de Baco – sem está ao volante, é claro –, embriague-se e embriague-o, como nos rituais da antiguidade e, certamente, emergirá do fundo d’alma a natureza animal do conviva, já montado na ema, a desvelar o seu verdadeiro ser, “o homem que está por debaixo do homem”.
Não por acaso, escreveu Dostoiévski, em clássico universal: “Entre os russos, em todas as partes se acolhe o bêbado com certa simpatia; no presídio quase lhes prestavam homenagem. Havia qualquer coisa de aristocrático na bebedeira dos presidiários. Assim que se embebedava, o preso começava logo a exigir música. Havia no presídio um polaco desertor, muito repugnante, mas que tocava violino, possuindo um que era mesmo seu e representava toda a sua fortuna”.
Depois de muito meditar, inferi que a embriaguez não pode ser banalizada, por ser divina, e como não ando a cata de novas amizades, passei a respeitá-la como um genuíno ritual, por isso, só me embriago em templos seletos, com amigos verdadeiros, cujos instintos e sentidos já foram aprovados no teste do vinho, e não deixo jamais, ao alfim da festa, empós vários brindes – as libações modernas – de dançar ao som de Zorba.
Enfim, desconfie sempre do homem que não bebe, porém, jamais deixe de ter com ele relações fraternas, afinal, somos seres civilizados.
Coaracy Fonseca
2 comentários:
Tanto assim que, os homéricos porres estão sempre presentes nos grandes momentos da humanidade.
Apenas prá lembrar alguns:
Após se estabelecer em terra firme, depois do dilúvio, -Noé tomou tão grande porre que até hoje dá o que falar.
-A dança de Salomé para conseguir a cabeça de João Batista, certamente foi regada a muito vinho.
-Sansão sucumbiu ao encantos de Dalila e após uma noite regada por muito sexo e vinho, amanheceu tão ressacado e fraco que se tornou presa fácil de seus adversários.
-Nas bodas de Caná, os convivas tomaram todo o vinho do anfitrião, forçando Jesus fazer o seu primeiro milagre.
E por aí vai.
Concordo plenamente! In vino, veritas.
Belo texto, Coaracy. Grande abraço, George.
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