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terça-feira, 4 de agosto de 2020


FETICHE

Aquele cliente sempre intrigara a vendedora de lingeries. Ainda jovem, impecavelmente vestido, ocupava um elevado cargo na magistratura. O porte imponente inspirava respeito, decência.  A voz suave, aliciante. Mas tinha um modus operandi particular: todas as semanas ia à loja e pedia três peças íntimas do mesmo modelo e cor. Naquele dia não foi diferente:

– Três calcinhas vermelhas, bem provocantes. 

A vendedora não conteve a curiosidade:

– Por que o senhor não escolhe cores diferentes? Sua esposa vai adorar.

Ele piscou o olho e disse em voz baixa:

– Na verdade ela ama os presentes, diz que tenho bom gosto e veste as peças em ocasiões bem especiais, se é que me entende.

– ?

– Mas também tenho duas amantes – disse com uma voz grave, recostando-se no balcão. – Uma não tem conhecimento da outra. Esse clima de mistério, a atmosfera de clandestinidade, o medo de ser descoberto, tudo me excita.

Percebendo o embaraço da moça, continuou:

– Você não pode imaginar o prazer que sinto quando elas vestem as lingeries e se sentem únicas em meus braços...

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