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sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

TATURANAS? TÔ FORA!

Amigos,

O artigo do promotor de justiça Maurício Pitta foi publicado ontem na Gazeta de Alagoas. Vale a pena conferir.

Maurício Pitta*

O que me chama a atenção neste episódio das “taturanas” não é tão somente o volume de dinheiro envolvido, mas também a mediocridade absoluta nas condutas cívica, moral e cultural!

Afirmo isto porque sempre me pergunto como alguém a quem o destino proporcinou a oportunidade de construir, fazer o bem... A quem o destino concedeu a chance de poder ajudar a centenas, milhares de pessoas paupérrimas e sem futuro (pessoas que encontram todos os dias de suas vidas nas ruas, favelas, parques e sinais de trânsito do nosso Estado), se dedicaram a um dos mais abjetos atos humanos: a traição aos que neles confiaram!

Tivessem se preocupado em ler mais, se instruir mais, saberiam que existe uma diferença fundamental entre a desprezível prática “taturana” e o que definiu o filósofo britânico John Locke em sua obra Segundo Tratado sobre o Governo: “A primeira lei natural básica que deve nortear até o próprio poder legislativo consiste na preservação da sociedade e, até onde seja compatível com o bem público, de todos os seus membros”.

Desconhecer esta regra básica inerente aos homens e mulheres de bem (e não precisa ler John Locke para saber disto) significa não ter compromisso com a dignidade e a retidão de caráter exigíveis para qualquer agente público.

Não somos uma sociedade feudal onde pseudos barões, que se acreditavam poderosos e inatingíveis, imaginaram poder manipular e se apropriar do dinheiro público (nosso dinheiro) apenas para satisfazer interesses próprios e dos seus.

No entanto, precisamos aprender a reagir a tais comportamentos da mesma forma como reagimos ao assaltante comum que invade o nosso lar! Você cumprimentaria respeitosamente e sorridente ao delinquente que invadiu sua casa ou lhe assaltou na rua ou no trânsito, quando o encontrasse no shopping center ou em algum restaurante?

Creio que não. Mas tenho presenciado a forma respeitosa e até atenciosa, para não dizer graciosa com que vejo pessoas recepcionarem agentes políticos acusados de crimes os mais repugnantes, comprovados por documentos e escutas autorizadas judicialmente E olha que não são acusações vis, mas...

Eu mesmo sou testemunha de tal fato, pois certa feita estava no iguatemi com alguns colegas e amigos quando uma determinada figura destas, ex prefeito acusado por ter desviado dinheiro do leite para crianças pobres do município onde era responsável, dirigiu-se à mesa em que nos encontrávamos e teve uma calorosa recepção como se fosse um homem de bem!

Não me dirigi a tal figura e me retirei da mesa até que fosse embora, mas fiquei entre surpreso e triste por constatar que em nossa “província” o provincianismo ainda impera em seus mais nefastos aspectos. Não somos pobres apenas de meios materiais, mas também pobres de consciência social e isto tem de mudar se queremos uma sociedade mais justa para os nossos filhos.

Ou você convidaria o assaltante que levou o celular de sua filha para um bate papo animado no cafezinho?

* Membro do Ministério Público e Professor da UFAL

2 comentários:

Anônimo disse...

Pois é George, de alguma forma este artigo representa os valores de nossa sociedade.
Tratar bem um "taturana" ou afins não seria, de certa forma, tentar se igualar a eles? Respeito ou admiração acredito que não seja.
O bandido que rouba deve ter prisão perpétua, pena de morte; o político é ovacionado.
Porém, cabe lembrar que 2010 está em nossas portas, e competi-nos, enquanto sociedade, lembrar a todos quem são os pretensos candidatos a nos representar. E tenha certeza, todos estarão na disputa e, infelizmente, alguns ganharão.
Mais não nos curvaremos perante a mediocridade.
Grande Abraço
Rogério

Anônimo disse...

Quando fui aluna do Pitta, perdia-me entre suas falas e comentários, da mesma forma que fiz ao ler esta matéria. Observações inteligentes, oportunas e verdadeiras. Novamente. Sempre.