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segunda-feira, 13 de julho de 2020



CONSELHO DE PAI

Repugnava-lhe a origens familiares, a infância pobre em uma comunidade carente e violenta. A ascensão social era a sua razão de viver. Talvez a fizesse esquecer os anos de privações e humilhações que permearam sua infância.

Exorcizava os demônios em lojas requintadas. Os falsos elogios das vendedoras a transportavam para o mundo glamoroso das socialites. Imaginava-se nos salões grã-finos a arrancar suspiros com os requebros sensuais no vestido justo... afinal esse era seu poder de sedução.

E danava-se a comprar.

O marido, apaixonado, satisfazia-lhe os desejos ainda que isso custasse impagáveis empréstimos bancários e uma triste vida de aparências.

Ao vê-la sair do vestiário, abraçada às peças escolhidas, nem pergunta o preço. Resignado, saca o cartão de crédito, dirige-se ao caixa e, com imperceptível sorriso, lembra o inútil conselho de seu velho pai, falecido há décadas:

– Quando for casar, filho, escolha uma mulher pobre ou rica. Tanto faz. Desgraça é esposar uma pobre metida a rica. Você cavará sua própria sepultura.


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