CONSELHO DE PAI
Repugnava-lhe
a origens familiares, a infância pobre em uma comunidade carente e violenta. A
ascensão social era a sua razão de viver. Talvez a fizesse esquecer os anos de privações
e humilhações que permearam sua infância.
Exorcizava
os demônios em lojas requintadas. Os falsos elogios das vendedoras a
transportavam para o mundo glamoroso das socialites. Imaginava-se nos salões
grã-finos a arrancar suspiros com os requebros sensuais no vestido justo... afinal
esse era seu poder de sedução.
E
danava-se a comprar.
O
marido, apaixonado, satisfazia-lhe os desejos ainda que isso custasse
impagáveis empréstimos bancários e uma triste vida de aparências.
Ao
vê-la sair do vestiário, abraçada às peças escolhidas, nem pergunta o preço. Resignado, saca
o cartão de crédito, dirige-se ao caixa e, com imperceptível sorriso, lembra o inútil
conselho de seu velho pai, falecido há décadas:
–
Quando for casar, filho, escolha uma mulher pobre ou rica. Tanto faz. Desgraça
é esposar uma pobre metida a rica. Você cavará sua própria sepultura.
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